top of page
Buscar
  • Foto do escritorArtigos

O Complexo do Don Juanismo na Psique Humana.

Atualizado: 22 de fev. de 2020


Quando falamos de complexo, instala-se inevitavelmente na nossa mente a ideia de um emaranhado emocional carregado de experiências que fomos calejando ao longo da vida e de padrões comportamentais que invariavelmente acompanham esse complexo. Essa é a ideia de um conceito Junguiano que se foi instalando na mente coletiva das várias culturas ocidentais.

Carl Jung foi o homem que descobriu esta dinâmica psicológica, assumindo que a carga psíquica de um complexo podia ser tão forte que a sua presença poderia constelar uma personalidade independente dentro do próprio indivíduo e, sempre que este fosse ativado, o sujeito seria envolvido no próprio complexo e deixaria de ser ele próprio.

Coloca-se então a seguinte questão: Como pode um complexo ser ativado?


Pense por exemplo quando a raiva se apodera de alguém no trânsito ou num assunto idiossincrático que ganha uma tónica exagerada nesse indivíduo, forçando a que abandone por completo a sua postura harmoniosa social. Essa pessoa é de repente dominada pela raiva porque muito provavelmente foram activos determinados botões que não estão bem integrados no seu software psíquico.

Todavia, os complexos não assumem somente uma atitude negativa perante a vida, até porque o complexo - como outro elemento qualquer psíquico - tem a sua faceta positiva e a sua faceta negativa. Resumindo, um complexo pode ter uma tonalidade positiva (+) ou negativa (-). Os complexos formam-se em parte através das nossas experiências e a nossa experiência com a nossa própria mãe pode conduzir então a um complexo materno positivo (+) ou um complexo materno negativo (-). Poderão ver mais acerca disto no seguinte link.


Na verdade, para o rapaz a sua relação com a mãe e a sua relação com o pai pode levar a imensos desfechos, contudo aqui vou somente centrar-me como a partir desta relação pode surgir o Don Juanismo.

Contudo, antes de avançar, convém explicar o que é o Don Juan, contextualizando um pouco este sujeito "mulherengo" como também é caracterizado por vezes.


O Don Juan é uma figura arquetípica (Arquétipo do Grego: Arcké "antigo" "primitivo"; Typón "Tipo" Modelo = Arckhétypon "modelo primitivo" "modelo antigo".) que emerge no sangue 'caliente' espanhol, talvez na sublimação intelectualizada e lírica de Tirso de Molina. A partir dessa primeira descrição, existe uma enorme repartição de textos e lendas que retratam Don Juan tanto como com um traje libidinoso, petulante e desalmado, como, por outro lado, com um pobre coração romântico em busca da eterna amada e perdido por completo na sua energia criativa que é somente alcançada em vislumbre quando beijada pelo toque entre Eros e Vénus.

Independente da sentença que o nosso júri intrínseco atribuí a Don Juan, mediada pela experiência pessoal daqueles Dons Juans que se apresentam na nossa vida e prefiguram a nossa categorização subjetiva, creio que ambos os atributos possam estar corretos e até ocorrerem na mesma alma humana. Desta forma, pode ocorrer um Don Juan cruel sobre a expressão de uma persona viril e arrogante, ou um Don Juan frágil, socorrista viandante dos caprichos do coração.

O que prefigura a construção de um ou de outro, ou o surgimento de um em vez do outro, é ditado pelo aglomerado de variáveis que se vão acumulando ao longo da existência desta pobre alma. A qual encontra a sua força/inspiração maior na relação matrimonial psíquica exercida pela mãe e pai, agentes eminentes da formação do complexo paterno e materno.

De modo simplório, no primeiro caso, um Homem rude e bruto que procura cimentar a sua tirania sobre uma mulher débil e delicada poderá exacerbar um Don Juanismo tóxico, principalmente se, por variáveis múltiplas, o vínculo materno do infante for frágil, pelo que este toma o pai como seu herói e figura vicariante.

No outro caso, uma figura vinculativa positiva com ambos os progenitores, mas com a particularidade de uma soberania afetiva por parte de uma mãe guerreira, amorosa, inteligente, talentosa, carinhosa e generativa, o que enaltece o complexo materno instanciando uma Deusa-Mãe toda poderosa.

No primeiro caso, de certo modo, o sujeito irá desprezar a mulher até que a mítica medusa o torne pedra ou, da mesma forma, fique petrificado com a superioridade de Vénus ou pelo carácter guerreiro de uma Dísir, capaz de detonar em combate anímico a obstinação do macho alfa.

No segundo caso, tal como Von-Franz indica "Ele procura uma mãe-deusa, portanto, apaixona-se por uma mulher, mas logo descobre que ela é um ser humano comum. Por ter sido atraído sexualmente por ela, toda a paixão de repente desaparece e ele decepciona-se e deixa-a..." Sempre à procura da imagem da mãe nas outras mulheres e sempre a repetir a mesma história.

O Puer Aeternus (Jovem eterno ou Peter Pan), que aparece marcadamente no Don Juanismo, é um distúrbio dos complexos parentais e não é exclusivo do complexo materno, apesar deste assumir a sua predominância estatística.

No Don Juanismo tóxico desencadeado pela atrofia da persona machista temos a separação do sujeito com a sua quintessência afetiva, a sua anima (símbolo feminino) reprimida de alguma forma por um bloqueio interno.

No Don Juanismo débil, surge marcadamente a expressão de uma afetividade compulsiva subliminada em expressão de amor e eros na melodia harmoniosa de uma balada ou na lírica de um poema agoniado.

Contudo, o Don Juanismo tóxico é sempre um nível inferior do Don Juanismo débil. De certa forma o Don Juanismo tóxico renega a mulher, por renegar uma parte intrínseca sua, mas só a mulher poderá restituir e devolver esse encontro consigo mesmo. Se de algum modo o encontro falhar, e o sujeito perder a sua obstinação alfa em confronto com uma mulher maior do que ele, correrá o risco de se tornar débil e perder o resto da sua vida na sublimação artística de uma alma entorpecida...


Todos os direitos reservados João Diogo Vedor ©

95 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page